Aprender a lidar com as adversidades é uma questão essencial à vida e ao tratamento do diabetes, mas a tão sonhada felicidade pode ser bem diferente do que parece para algumas pessoas.
Por Daniel Ramalho
Desde que criei o blog Diabetes Esporte & Natureza, há 4 anos, por inúmeras vezes falei sobre a felicidade, o bem-estar e a positividade. Preocupo-me sempre em contextualizar com as questões do convívio com o diabetes, para ser mais claro sobre minhas intenções ao escrever sobre tal assunto. É uma missão nada simples, pois conviver com o diabetes é como andar abraçado a um animal domesticado: se você estiver atento e o tratar bem, fica tudo bem. Se o maltratar, ele ficará feroz como um leão e as consequências serão desagradáveis.
O fato é que acredito e comprovo com minha própria forma de ser, que a melhor maneira de encararmos as adversidades é através do bom humor, da alegria de viver e da vontade de superar-se e melhorar-se a cada despertar. Isso não quer dizer que temos que sorrir o tempo todo, pois também temos medos, frustrações, decepções, enfim, sentimentos bons e ruins.
Sobre Juízes e Leões Ferozes
Não, minha vida não é um mar de rosas. Tenho até encontrado mais pedras no caminho do que imaginava há algum tempo. Mas não é por isso que vou andar por aí atirando ou chutando pedras na vida, no acaso ou na minha falta de sorte. Por muitas vezes caio, me machuco, me entristeço, choro… Em algumas, colocar-me de pé novamente é algo que, naquele momento, parece impossível. Porém uma das coisas que o diabetes me ensinou foi a buscar forças em meu coração. Mesmo que tudo pareça perdido, jamais quero acordar o tal leão. Então sigo adiante, superando, caindo e me levantando.
Mas por que escrevo sobre essa questão?
Muitos pensam que aquele que fala sobre felicidade já nasceu assim e vive em eterno estado de graça. Em certos momentos, exercem até certa pressão sobre quem se considera feliz, mas está passando por um momento difícil. Não raro, lhe apontam “dedos de juízes” e comentam “Está vendo? Ele não é tão feliz como diz”. É como se o invejoso – sim, isso se chama inveja, ainda que alguém se identifique e não queira assumir – precisasse justificar sua própria tristeza e infelicidade tentando provar que o feliz não passa de um impostor.
Ora, ao ver e sofrer diante de situações como essa muitos podem ser levados a uma indagação: seria a felicidade um privilégio para poucos? Definitivamente, não.
O Universo da Felicidade
Ferramentas
Quando digo que precisamos encontrar nossas ferramentas internas para resolvermos nossas questões e conviver de forma pacífica com o diabetes, me refiro justamente a essa acessibilidade universal à felicidade. Todos nós temos ferramentas que podemos utilizar na construção de uma vida mais sorridente e menos angustiante, pois isso depende mais de nós mesmos do que, na maioria das vezes, imaginamos.
Resiliência
Obviamente se falamos de casos clínicos, como depressão e ansiedade, tudo torna-se mais difícil. Mas isso não quer dizer que seja impossível. Usar a virtude da temperança e tentar acessar a força da humildade, aceitando seu momento e procurando ajuda de um profissional da psicologia ou da psiquiatria, pode ajudar muito. Quando aceitamos os desafios que a vida nos propõe, passamos a solucioná-los com mais objetividade. Também aprendemos a conviver de forma positiva com eles. E assim é com a ansiedade, depressão e, pasmem, com o diabetes. Claro, resiliência pode ser desenvolvida e ajuda muito na superação das adversidades.
Círculo Vicioso
Quando falamos de pessoas clinicamente saudáveis no tocante à questão mental e emocional, teoricamente, nada as impede de serem felizes. Mas não é muito difícil notar que pessoas infelizes investem em coisas que as chateiam, machucam e alimentam um círculo vicioso altamente negativo. Por outro lado, aquele cara ou aquela menina de bem com a vida, pessoas felizes, se dedicam mais às atividades que curtem e pensam de forma mais otimista. Adotam posturas e atitudes que reforçam várias de suas forças pessoais, a auto-confiança e aumenta as chances de enfrentarem com mais naturalidade as dificuldades, encontrando respostas mais eficazes na resolução de seus problemas.
Azedando a Vida
Portanto, muito se engana aquele que, em lugar de investir no que lhe faz bem, insiste em depreciar a conquista do outro – geralmente referindo-se a ele como “inocente”, “bobo alegre”, “maluco” – como se, manter-se em uma posição arrogante e de suposta superioridade, lhe pudesse trazer algum ganho, recompensa ou status. O azedume produzido só amarga a vida de quem o fabricou e, agindo-se dessa forma, investe-se no tal círculo incessante ao qual me referi anteriormente.
Aliás, a arrogância azeda a vida e a saúde até de quem se considera feliz, pois a pessoa bate tanto no próprio peito para ostentar eterna alegria, que a felicidade perde o sentido, transformando-se em simples orgulho, reles munição para ferir a quem ele considere inferior: uma pessoa menos feliz…
Decisão, Investimento e Exercício
Enfim, ser feliz é uma questão de investimento e independe da vontade de outras pessoas. Ser feliz é uma decisão individual e depende de nossas atitudes. Enxergar a própria felicidade é o fruto de um exercício diário de humildade, gratidão à vida, amor a si e ao próximo. Enfrentar os desafios sem deixar de ser feliz, ah… Essa é a parte mais difícil, mas se tirarmos o foco do problema e passarmos a mirar a solução, pode até ser sacrificante, porém dificilmente aniquilará nossas forças.
Pense nisso
A felicidade alheia só ofende a quem não se propõe a buscar seu próprio bem-estar. A resiliência só vem para quem está disposto a aprender com os próprios percalços. Mas não existe almoço grátis, já diria a sabedoria popular. Só conhece o real valor de um largo sorriso, quem sobreviveu à dor dos longos prantos. Só controla bem o diabetes, quem já errou o suficiente, mas permitiu-se aprender.
Ame-se: arrisque-se a encontrar suas soluções e seja feliz tentando. Seja feliz ao lado do seu leão.
Grande abraço,
Daniel Ramalho
Diabetes Esporte & Natureza
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Daniel Ramalho – Raquel Pilotto – Rodrigo Barbosa
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