imagem GLICADAS E MANCADAS

Por Daniel Ramalho

Geralmente quem entra no mundo do diabetes se assusta, logo no início, com o vocabulário próprio dos seres que habitam o planeta doce. DM, lada, mellitus, glicosímetro, insulina, hipo ou hiperglicemia, ponta de dedo, tira-teste… O que se fala entre pessoas com diabetes, seus familiares, amigos ou profissionais de saúde é quase um dialeto, mas poucas expressões despertam tantas emoções como “hemoglobina glicada” ou apenas “glicada”, como costumam dizer os mais íntimos.

Glicada: Prêmio ou Pesadelo

Menina dos olhos de quem convive com o diabetes, a glicada é como um troféu, um prêmio para cada um que se cuida corretamente. Porém, ela também pode ser um pesadelo, a verdade que bate na cara de quem não conseguiu se cuidar por alguma razão, seja por irresponsabilidade, outros problemas de saúde ou questões externas que afetam seu tratamento emocional, financeira ou estruturalmente. A verdade é que, embora não seja a única questão a ser avaliada para saber se os cuidados com o diabetes estão sendo positivos, um bom resultado no exame de hemoglobina glicada, que traz uma média da glicemia nos 90 dias anteriores à coleta, ainda é a meta mais almejada por quem convive com a condição.

Alguns Resultados Marcam

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Na maioria das vezes, meus exames trouxeram boas ou ótimas notícias nesse quesito, mas, como todo simples mortal, as coisas já complicaram em alguns momentos da vida. Um deles foi quando notei que, por mais que tentasse me cuidar, que praticasse exercícios, fizesse uma alimentação correta, às vezes até radical, minhas glicemias não estabilizavam nunca. Daquela época, lembro-me de uma glicada 8,3%, o valor de referência é até 7% para quem tem diabetes. Embora ruim, um resultado reversível, mas que muito me abalou, levando em consideração todo o esforço que tinha feito para que saísse abaixo do desejado número 7.

De lá para cá, mudei meu tratamento por duas vezes, consegui melhores resultados e nunca mais tive uma glicada fora da meta. Porém – e a vida sempre nos coloca à frente alguns poréns, nos últimos dias de dezembro, quase na véspera do Natal, levei um grande susto.

Expectativa de Sucesso

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Era a noite do dia 21, sexta-feira, e o resultado do exame de sangue, que havia feito no dia anterior, só sairia na internet na segunda, 24 de dezembro. Já se fazia tarde, mas estava ansioso para saber o resultado da glicada, afinal, tinha passado por problemas de saúde durante o ano, principalmente no segundo semestre, mas havia me dedicado bastante, dentro de minhas possibilidades. Por terem prejudicado a regularidade de minhas atividades físicas, esses problemas exigiram que me alimentasse da forma adequada. Resistindo a várias tentações fora de hora, sucumbi a outras, afinal, ninguém é de ferro. Mas o balanço geral era positivo e esperava a coroação de toda essa saga, com uma glicada abaixo de 7%.

Sabor de Derrota

Já com a cabeça no travesseiro, não resisti: passei a mão no celular, entrei no site do laboratório e, para minha surpresa, o exame já havia sido liberado. Sem nem piscar o olho, cliquei logo no link para saber como andava de saúde. Decepção é pouco para descrever o que senti. Incredulidade, medo, raiva, senti tudo isso ao mesmo tempo: novamente um resultado 8,3% voltava a me assombrar.

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Maricá-RJ 2018, Daniel Ramalho / Foto: DEN

Não sabia o que estava acontecendo, aquilo não era justo, mas o que mais me assustou foi a volta que minha mente deu quando pensei em meu trabalho com o blog, as palestras, associações… Nunca quis ser exemplo para ninguém, mas é inevitável que algumas pessoas nos tomem como tal. Quando posto uma glicemia bonita, tento motivar outras pessoas a buscarem o mesmo, mas alguns pensam que não tenho meus momentos ruins. Isso se tornou um peso enorme nesse momento: me senti uma fraude!

Uma tristeza enorme me pegou desprevenido. Não conseguia aceitar meu fracasso com minha saúde e dessa vez a queda afetaria diretamente o meu trabalho. Jamais conseguiria falar sobre motivação ou boas glicemias se eu mesmo não estivesse cumprindo aquilo que defendo e tento mostrar a todos tratar-se da melhor forma de se enfrentar o diabetes. Não dormi aquela noite.

Levantando a Cabeça

Acordei no sábado ainda muito triste e pensando em todo o esforço que tinha feito em vão. O pior é que as médias glicêmicas do monitor da bomba de insulina e do glicosímetro Libre referendavam o que pensava: médias de 145 e 139 mg/dl no período, que dariam 6,7% e 6,4% respectivamente, ou seja, ótimos resultados.

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Decidi esquecer um pouco, curtir minha família e tentar relaxar. Foi a melhor decisão que tomei. Passamos um ótimo sábado, com direito ao aniversário do meu amigo “mala”, Pablo Silva.

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Foi muito bacana, embora sentisse uma pontada no coração cada vez que pensava nos tais 8,3%. Sinceramente, naquele dia 22 comi o que quis e corrigi sem tanta atenção.

O dia 23 veio trazendo novos ares: a tristeza e o desânimo tinham dado lugar a um leão feroz, ávido por sangue, com pouco açúcar, obviamente. Novo dia de festa, dessa vez, o batismo da filha de um amigo de infância e velho companheiro das ondas. Dessa vez fiz um controle mais atento que no dia anterior. Eu tinha aceitado a informação, embora a sensação de que havia algo errado naquela história ainda pairasse sobre minha cabeça.

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De qualquer forma, de nada adiantaria me revoltar, deixar de me cuidar ou tentar encontrar um culpado. Eu teria que me esforçar mais. Não sabia como, mas teria.

Redenção e Mancada

A segunda-feira, véspera de Natal, nasceu com um bom astral e já me preparava psicologicamente para um controle ainda mais forte do que o normal para a tão esperada Ceia de Natal. Só de pensar nos quitutes que teria que contar carboidratos com ainda mais dedicação, já me dava preguiça. 🙂

Tomo a insulina antes do desjejum, sento para começar a comer e recebo uma mensagem de meu médico no Whatsapp, na qual ele expressava toda a sua revolta com o susto que eu havia lhe dado. A princípio, não entendi nada. E logo ele afirmou: “Sua glicada é 6,7%”. Hahahahahahahahahahahahahaha! Como temos uma ótima relação, ele pensou que eu estivesse brincando quando escrevi, ainda na sexta à noite, que minha glicada era 8,3%.

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Explicando, o laboratório que realizou o exame envia os resultados aos médicos por e-mail. No dia marcado, pela manhã, meu médico recebeu por e-mail o meu exame e constatou que ou havia algum erro ou eu estaria brincando. Obviamente, me conhecendo, o dr. Rodrigo pensou que eu estivesse querendo assustá-lo. Hahahaha.

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Lembram daquela glicada 8,3% de alguns anos antes? Pois ela resolveu me assombrar novamente. Curiosamente realizei aquele exame no mesmo laboratório do exame atual e como na sexta à noite, com sono, já deitado na cama e tentando ler as letrinhas miúdas do celular, um erro qualquer pode passar, eu acabei lendo o exame antigo, pois o novo ainda não estava disponível. Hahahahahaha!

Em suma, minha glicada era realmente 6,7%, mas passei péssimos momentos até descobrir que tinha me enganado. Foi realmente um grande peso que tirei das minhas costas, mas não foi em vão: essa situação me alertou para algo muito mais complicado e que pode influenciar diretamente as minhas glicemias, mas isso é papo para o próximo post.

Moral da História

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Deu ruim? Relaxa e segue em frente.

Então, ficam as lições e a dica: nada de ansiedade; cobre-se menos, sem desviar de suas metas; espere a data do resultado do exame para conferi-lo e nunca, mas nunca mesmo, acesse o site deitado na cama, morrendo de sono e pelo celular. O resultado pode ser catastrófico e você pode carregar um grande peso até descobrir o engano.

Hahahahahahahaha!

Grande abraço,

Daniel Ramalho

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