Por Daniel Ramalho
A cada dia que passa sou surpreendido por esse turbilhão de variáveis que representam nossas emoções. A falta de uma fórmula exata para controlá-las às vezes nos angustia, mas é justamente aí que mora sua incomparável beleza e o fascínio de quem se lança ao desafio de tentar entender o que vai pela mente e o coração humano.
Considero-me uma pessoa positiva, de bem com a vida e que, por mais que ela bata, sempre encontro uma forma de me recuperar e seguir em frente o quanto antes. Não poderia ser diferente: desde a infância tento criar o ambiente mais agradável possível ao meu redor. Amigos, parentes, móveis, fotos, recordações, música, cheiros tudo tem o seu lugar, momento e importância. Dificilmente deixo que passem despercebidos e assim vou fazendo um filme com todas as dimensões possíveis em minha mente. O cérebro e o coração são verdadeiros artistas, criadores de obras que o homem nem sequer consegue se aproximar tamanha sua complexidade. Pois essa dupla me pregou uma peça hoje.
Após um dia de glicemias ótimas, como comentei com todos ontem na página DIABETES, ESPORTE & NATUREZA no Facebook, fui dormir às 23h30 muito feliz, mesmo com uma medição não tão boa na hora de descansar. Como sempre, corrigi com minha insulina rápida e recostei minha cabeça no travesseiro certo de uma ótima noite de sono, dessas que temos quando sentimos a alma lavada. Doce ilusão…
Por volta das 2h30 da madrugada, acordei com sintomas de hipoglicemia, constatada através do glicosímetro que mantenho ao meu lado todas as noites. O número não era tão assustador, 64 mg/dl, para quem já enfrentou glicemia até de 32 mg/dl sem perder a consciência, mas os sintomas estavam bem fortes.
Errei! Errei na dose da insulina rápida, aplicando-me uma quantidade normal para depois de um dia sem atividades físicas, esquecendo-me por completo que havia acordado cedo para uma caminhada de quase 7 km. Não sou perfeito. Ninguém é, mas cometi um erro e precisava agir.
Aquela situação merecia, como de praxe, uma solução: consumo de carboidratos de rápida absorção no meio da noite. Quem já passou por isso, sabe que o mais difícil nessas horas é controlar a fome insaciável que se sente e, por mais que saiba que não devemos ceder à tentação de comer mais do que necessitamos, confesso: exagerei! Novo equívoco de minha parte… Comi o que vi pela frente enquanto sentia aquela sensação de impotência que temos quando nos acordam de sopetão no meio da noite.
Após esse “assalto à geladeira”, notei a besteira que havia feito e novamente vi que precisava continuar atuando para não acordar com uma glicemia absurdamente alta.
Algum tempo depois, nova medição e a constatação dos efeitos da “larica” me obrigou a tomar um reforço da NovoRapid. Voltei a dormir.
Pela manhã, completamente exausto como se não houvesse dormido, ainda beirava os 300 mg/dl. Tomei minha NPH (que apesar das críticas me propicia um bom controle glicêmico aliada aos esportes que pratico), nova dose da rápida e fui tomado por uma enorme tristeza, à qual denominamos “simpaticamente” de “Ressaca da hipo”. Normal depois de uma hipoglicemia noturna, mas me surpreendeu a enorme força com a qual essa “ressaca” me arrebatou.
Passei várias horas do dia sentindo muita tristeza. Quem lê agora e já passou por esse tipo de ressaca sabe exatamente do que falo, mas hoje foi muito forte.
Alguns certamente dirão: mas onde está aquela força do guerreiro que sempre nos anima e diz que não se deve ceder ao desânimo nessas horas? Pois é… Eu também me perguntava, mas não conseguia reagir. Tinha plena certeza do que deveria fazer para me animar novamente, mas era um daqueles momentos em que realmente não conseguimos encontrar a força necessária para nos levantarmos. E tudo justamente um dia após 24h de sonhos de todo aquele que convive com o diabetes.
Estou longe de ser um Super-Homem, um ser infalível, como alguns podem pensar quando posto minhas glicemias aqui no blog e por isso resolvi que era hora de escrever e relatar os momentos que passei, com a maior humildade que tenho em meu coração, para que fique claro que passo pelas mesmas angústias que toda e qualquer pessoa com diabetes passa.
Também tenho meus momentos de desânimo, em que a vida parece não contribuir para nossa felicidade, em que nos sentimos impotentes e seres esquisitos que por uma baixa na glicose desanda a tremer, suar, ficar tonto, se irritar, entristecer. Poucas são as situações da vida em que nos sentimos tão fragilizados, tão pequenos diante dos outros, mas não há mal que perdure se resolvemos agir contra o que nos aflige.
Dei-me um tempo para tentar entender melhor o que estava me acontecendo. Como uma simples hipoglicemia noturna havia me deixado daquela forma? Imediatamente me lembrei de quem sou, o cara que sempre busca soluções quando parece não haver, aquele que nunca deixa de sorrir nas horas mais difíceis, o amigo que sempre tenta levantar o astral de todos, onde quer que esteja. Foi aí que me dei conta do que estava fazendo.
Não é porque nos orgulhamos do que somos que não teremos que pagar o preço por sermos. Não devemos nos cobrar a perfeição, posto que nada mais é do que pura utopia. Ao me levantar hoje, passei a ruminar minhas falhas. Quem nunca o fez? Culpar-se, julgar-se e condenar-se é algo muito comum a todos nós que temos o hábito de autocriticar-nos para tentar melhorar o que somos.
A autocrítica é um hábito muito importante e positivo se a fizermos na medida correta: sem ruminações, condenações ou cobranças. Ela nos propicia a evolução da mente, do coração e o amadurecimento. Não podemos transformá-la em algo daninho e instrumento de punição.
Posto isto, voltemos à vida, à alegria, aos sorrisos e à prática das lições aprendidas. Ninguém é perfeito. Todos somos passíveis de falhas, desencontros, equívocos dos mais variados, só não podemos deixar de aprender com cada passo em falso que damos.
Cada tropeço é um livro enorme de possibilidades de aprendizado. Basicamente, um intensivão da vida. Dediquemo-nos a extrair de todo erro, sua mais valorosa essência: o conhecimento. Seja de nossa força ou fragilidade, coragem ou covardia. Tudo conta na hora de nos conhecermos melhor e transformarmos nossa queda em vitória!
Vamos que vamos, agora com a alegria que me caracteriza, após minha auto-absolvição das cobranças internas. Mea Culpa! Mea maxima culpa! Lições aprendidas, novamente em posição de combate, carregando as armas, fogoooooo!!!!
“Quem nunca um erro cometeu, também nunca algo descobriu”.
Regina Shultz
Boraaaaaaaa!!!!!! Hahaha!
Grande abraço a todos!
Blogueiro, jornalista, editor do Blog Diabetes Esporte & Natureza, pedagogo, pós-graduando em “Educação em Diabetes” e “Psicologia Positiva e Coaching”, esportista amador, músico e ator. Convive com o Diabetes Mellitus tipo 1 desde 09/07/2008.
Praticante de esportes radicais com ênfase em Surf, Bodyboard e Skate, além de SUP (stand up paddle), ciclismo, natação e trekking, utiliza as atividades físicas como aliadas no controle glicêmico.
Profissionalmente dedica-se à composição de trilhas sonoras, administração escolar e ao jornalismo.
DIABETES, ESPORTE & NATUREZA © Todos os direitos reservados
http://www.facebook.com/diabetesesporteenatureza
http://www.facebook.com/groups/diabetesesporteenatureza
http://www.youtube.com/channel/UCFbpRwQC1m8HXrwOeFk504g
Jornalista responsável: Daniel Ramalho
Contato: diabetesesporteenatureza@gmail.com