Coluna Psicologia & Diabetes
Por Raquel Pilotto
Olá a todos, meu nome é Raquel Pilotto, tenho 28 anos, sou psicóloga clínica e tenho diabetes tipo 1 há 16 anos. Nesse primeiro texto para o blog do meu querido amigo Daniel, irei fazer uma breve apresentação da minha história. Nos próximos textos falarei mais sobre a psicologia e como ela pode nos auxiliar no controle da diabetes e no nosso desenvolvimento pessoal.
Raquel e o Diagnóstico
Meu diagnóstico foi aos 12 anos de idade. Tive os sintomas iniciais clássicos: muita sede, urinando em excesso, muita fome e perda substancial do meu peso em pouquíssimo tempo. Tudo isso chamou a atenção dos meus pais. Minha mãe já conhecia a doença, pois, como assistente social, trabalhava com grupos de pacientes com diabetes e hipertensão.
Uma noite, depois de comer mais da metade de uma caixa de paçoca que eu havia pedido para meus pais comprarem, não me sentia muito bem e falei para ela o que estava sentindo. Na manhã seguinte minha mãe me levou no hospital ao qual ia dar seu plantão, para fazer um teste de glicose e minha glicemia deu por volta de 520 mg/dl. Ela tentou me explicar que eu estava com diabetes, mas eu só conseguia pensar que uma prima dela tinha morrido, havia pouco tempo, com a doença. Então pensei que eu também iria morrer logo! Foi um susto, para mim e para minha família.
Eu fiquei internada uma semana, ainda não sabia de quase nada sobre a doença. Mas me diziam que poderia ser algo pior, pois pelo menos a diabetes tem tratamento e que se eu me cuidasse bem, viveria mais que uma pessoa que não tem a doença. Eu sempre me apeguei às coisas boas que me diziam. Nunca fui de reclamar e para mim o que não tinha remédio, remediado estava. Pensei: “O diabetes não tem cura, mas tem tratamento” e que se eu me tratasse ficaria tudo bem.
Relação Médico-Paciente
O pior é claro foi saber que não poderia mais comer doce, eu sempre amei doce. No primeiro momento foi assim. Depois, fui a uma médica que me encaminhou para uma nutricionista para aprender a fazer contagem. E daí ficou bem mais fácil, mas eu exagerava, comia tudo o que queria e corrigia. Nunca deixei de tomar insulina e medir a glicose, mas meu controle era sempre mediano com muitos altos e baixos.
Minha primeira médica falava muitos termos técnicos, eu não entendia e tinha vergonha de perguntar. Eu não tinha uma boa relação com ela, e hoje vejo que uma boa relação médico-paciente é primordial para um bom controle. Não que eu pense que todo o resultado do tratamento dependa exclusivamente do médico, muito pelo contrário, o paciente deve ser protagonista do seu tratamento, mas o médico tem um papel primordial de esclarecer as coisas e dar as ferramentas necessárias para auxiliar o paciente no controle de sua doença.
Maternidade e Desafios
Aos 17 anos eu engravidei. Tive uma gravidez muito complicada, não só por causa do diabetes, mas eu era muito nova e imatura, não entendia os riscos envolvidos, comia muito e de tudo, engordei quase 30 kilos e tive pré-eclampsia grave. Meu filho nasceu de 36 semanas, com sofrimento fetal, ficou internado na UTI neonatal 21 dias, e posso dizer que esse foi o pior momento da minha vida, eu não esperava nada daquilo. Passei a gravidez toda muito preocupada, mas pensava que se algo de ruim acontecesse seria comigo e não com ele. Me preparei para um parto tranquilo, amamentar logo, ir com ele para o quarto, levar ele para casa junto comigo e não foi nada assim… Mas, no fim, tudo deu certo e ele foi para casa bem.
Eu perdi quase todo o peso que ganhei, mas quando ele tinha por volta de 1 ano eu entrei em depressão, estava com hipertireoidismo e pedra na vesícula, teria que fazer uma cirurgia e estava morrendo de medo de acontecer algo comigo. Comecei a fazer psicoterapia, troquei o anticoncepcional e as pedras na vesícula sumiram, meu problema da tireoide normalizou, comecei a fazer exercícios e voltei a estudar e fui melhorando.
Porém, eu sempre fui muito ansiosa. Desenvolvi uma compulsão alimentar e engordei bastante, chegando a pesar 98kg (tenho 1,65cm). Estava em um estágio de obesidade grau 3, problema na coluna, lesão no joelho, baixa autoestima, desanimada e infeliz comigo mesma. Não conseguia mais fazer exercício, nem seguir uma dieta. Emagrecia e engordava logo depois tomando as medicações prescritas pelos médicos.
Cirurgia
Com isso, resolvi que iria colocar um balão gástrico, mas no meu caso era contraindicado pois tenho uma gastrite atrófica autoimune. Por isso, o médico me indicou que procurasse um cirurgião bariátrico e fizesse a cirurgia de redução de estômago. Foi a melhor decisão que tomei. Não foi simples, o procedimento em si é simples, a cirurgia é feita por videolaparoscopia, mas envolve todos os riscos de uma cirurgia. O que eu quero dizer, é que o processo não foi tão simples quanto eu pensava, eu não fui “emagrecida”, eu tive que emagrecer “sozinha“. Tive que mudar meus hábitos de vida, mudar a alimentação e fazer atividade física. Claro, que tive muita ajuda nesse processo, não quero dizer literalmente sozinha e sim que ninguém fez por mim o que eu mesma tinha que fazer.
Eu tive uma equipe incrível ao meu lado, para me dar todo o apoio que precisava. Sem eles talvez não tivesse tido tanto sucesso. Para começar, minha família sempre esteve do meu lado e isso faz toda diferença, o apoio familiar e essencial. Antes de decidir fazer a cirurgia já estava fazendo psicoterapia havia 2 anos. Antes da cirurgia, procurei uma nutricionista para me acompanhar, busquei o melhor cirurgião e meu endócrino me deu o aval para que eu pudesse fazê-la. O pós não foi fácil, tive que fazer uma readaptação em toda minha vida, mas valeu muito a pena toda a batalha, pois o resultado foi incrível.
Aprendizado
O que eu aprendi nesse processo é que só depende da nossa força de vontade para mudar. Claro que a cirurgia ajuda e uma boa equipe também, mas não dá para contar somente com esses fatores. Você terá que mudar a alimentação, fazer atividades físicas regularmente e melhorar o controle da glicose. Isso depende só de você, mas é claro que uma ajuda sempre vai bem.
Espero poder ajudar a esclarecer alguns temas sobre o diabetes e a mente, nessa nova empreitada em minha vida.
Até a próxima.
Raquel Pilotto
Psicóloga – CRP: 05/56133
raquelborgatte@hotmail.com
Facebook: https://www.facebook.com/psiraquelpilotto/
Parabéns pelo ralato, sua historia me multivou a entender aue é possivel viver bem com diabetes.