Por Daniel Ramalho
É fato que o estresse afeta direta e indiretamente nossas glicemias. Segundo a dra. Bibiana Colenci, em artigo publicado no site da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), “Os hormônios de estresse podem alterar a glicemia diretamente: o estresse mental em DM1 pode elevar ou diminuir muito a glicemia; em DM2 o estresse tende apenas a elevar a glicemia. Sob estresse físico, como cirurgias ou doenças, a glicemia tende a subir tanto em DM1 quanto DM2”. Em outras palavras, para quem tem diabetes, seja de qual tipo for, é parte muito importante do tratamento, evitar ou aprender a lidar melhor com situações que nos tiram do sério.
Abordo esse tema, pois na última quarta-feira, vivi uma situação tristemente corriqueira para quem vive no Rio de Janeiro, com a qual já lidei inúmeras vezes, mas que desta vez contou com um elemento que mudou toda a minha reação: a presença de minha filha e de minha esposa.
Experiência no Assunto
A violência em todo o país, não é novidade para ninguém. Porém em meu amado Rio de Janeiro está atingindo níveis que superam o limite do que se pode considerar um lugar muito violento. Diariamente, convivemos com as situações mais absurdas, com as quais, infelizmente, vamos nos habituando.
Eu mesmo, ao longo de minha vida, já perdi as contas de quantas vezes fui vítima dessa violência. Tantas, que acabei aprendendo a lidar com a situação, mesmo com uma arma na cara, o que já vivi algumas vezes, e, passado o susto, no dia seguinte era seguir adiante… Enfim, posso dizer, muito a contragosto, que eu sou uma boa companhia para ter ao lado em um momento de tensão diante dos episódios de violência nas ruas. Pelo menos, até a última quarta-feira…
Violência, Culpa e Reflexos
Um dia aparentemente tranquilo, tornou-se inesquecível negativamente, pois, pela primeira vez, minha filhinha de 2 anos e minha esposa estavam comigo quando apontaram a arma para mim. Nesse momento, toda a minha “experiência” se apagou e passei a agir por puro reflexo e emoção.
A história é longa e não vem ao caso, mas consegui escapar e o que veio a seguir foram dias de muita tristeza, sensação de culpa e, consequentemente, péssimas glicemias.
Passar por essa situação na companhia de minha família, foi algo muito difícil de superar e eu jamais poderia imaginar essa minha dificuldade, diante de meu “vasto currículo” em matéria de violência urbana. Principalmente, lidando com a questão de ter conseguido fugir com elas, diante de um deslize do assaltante, mas que igualmente nos expôs a um tiro pelas costas, que, graças a Deus, não houve. Jamais teria essa reação se estivesse sozinho, mas foi como eu disse acima: puro reflexo e emoção.
Os dias seguintes foram de um pesadelo que parecia não ter fim: toda a minha energia parecia ter se esgotado diante daquilo e a cena se repetia várias vezes em minha mente, bem como a sensação de culpa por ter exposto minha amada família a um perigo ainda maior, ao aproveitar seu deslize para fugir.
A Violência no Glicosímetro
Aquela noite e madrugada foram de pura tensão, com a glicemia subindo e nada do que eu fazia a baixava. Parecia até que a insulina havia perdido o efeito, o que, pela manhã, ficou claro que não, ao finalmente baixar. Pensei que tudo estava resolvido e no que dizia respeito ao estresse direto, estava, mas longas batalhas ainda me esperavam.
Esse efeito direto já era esperado, pelo que conheço de minhas reações a situações extremas como a vivida. O que viria a seguir, confesso que não lidava com a questão há bastante tempo: um desânimo constante e momentaneamente incapacitante. Resultado: glicemias tendendo a frequentar as alturas e minha total falta de energia e pouco interesse por meu controle glicêmico. Uma reação que indiretamente afetaria minhas glicemias por outros dias.
Como se não fosse o suficiente, passei duas noite praticamente em claro e passei a sentir dores no corpo, garganta arranhando e sensação de que minha sinusite voltava. Pacotão cheio, para quem já está com as emoções tão à flor da pele.
Após a Violência, a Retomada
Somente hoje, depois de ir a um evento sobre diabetes no sábado – o Papo de Diabético – e as comemorações de ontem pelo do Dia dos Pais – consegui voltar ao controle efetivo do diabetes. Os dois primeiros dias foram um desastre: poucos testes de ponta de dedo, “chutagem” de carboidratos, desmarcando compromissos importantes por estar sem condições emocionais para ir… Foi duro. Um verdadeiro burnout de curta duração.
Só passei a melhorar quando fiz o que deveria ter feito desde o início: desligar o celular e passar um tempo somente com a família, sem nenhuma interferência exterior. Só por (tudo) isso no sábado consegui ir ao Papo de Diabético e sair ainda mais leve de lá.
Glicemias? Continuava achando que a insulina estava comprometida e cogitava jogar fora o que restava no cartucho da bomba, mas logo após o evento ela começou a estabilizar. Reflexo, na minha interpretação, de ter me dado um tempo para lidar com a nova situação. Retomar a vida indo ao evento, também contribuiu ainda mais. A insulina ficou no cartucho, pois o problema não era ela, mas eu mesmo, pois fui muito duro comigo diante de uma falha, em uma situação completamente compreensível e as consequências foram ruins. Justo eu que lido tão bem com o meu diabetes – temos uma parceria na qual, quanto mais um ligar para ele, menos ele me incomoda – acabei cedendo a uma grande chutada de balde.
Aprendizado
Ficam as lições aprendidas ou reaprendidas, para que, mesmo que a vida bata forte e surpresas desagradáveis nos afetem, precisamos manter o máximo de controle, seja emocional ou glicêmico.
Vendo o lado mais positivo de tudo isso, finalmente marquei uma semana de descanso, na qual pretendo me desligar de tudo. Em breve farei uma pausa com a família em um lugar cheio de paz, já que férias mesmo, aqueeeeeeelas férias de 30 dias, nem sei quando virão. Acho que nunca! Hahahaha!
Grande abraço,
Daniel Ramalho – Diabeticoach
Diabetes Esporte & Natureza
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