Por Deise Santiago

Desmistificando a Contagem

A contagem de carboidrato pode parecer um bicho de 7 cabeças, mas é bem mais simples do que parece.

De um modo rápido e fácil, a maioria dos alimentos possuem carboidratos que irão virar glicose para serem absorvidos e, do sangue, entrarem nas células para gerar energia. O porteiro que abre a porta para a glicose entrar na célula chama-se insulina. Se o porteiro, ou seja a insulina, falta, a glicose não entra e fica vagando pelo sangue no nosso corpo. Ok?

Mas você que tem diabetes já aplicou a sua insulina ou já tomou a sua medicação e vai comer. A absorção da glicose acontece já pela bochecha, isso significa que em 15 minutos a glicemia já está subindo. O cérebro identifica essa informação e já avisa o pâncreas que precisa liberar insulina. A contagem de carboidratos é você fazendo as vezes do seu pâncreas, porque, por mais que o cérebro diga que tem glicose disponível, ele pode não funcionar (no caso do Tipo 1 ou LADA) ou então não dar conta, porque a quantidade de carboidrato foi superior ao que ele conseguia suportar (Tipo 2 ou MODY ou Gestacional).

Aprendendo a Contagem de Carboidratos

Primeiro de tudo você precisa saber quais alimentos não têm carboidratos. Geralmente carnes, peixes e ovos, mas se você fizer empanado, vai ter carboidrato. Certo?

Existem tabelas que fornecem as quantidades de carboidratos nos alimentos e também as tabelas nutricionais presentes nas embalagens, se não achou em lugar nenhum, existem aplicativos (Contagem de Carboidrato SBD) e até mesmo o sr. Google nos ajuda, então não tem desculpa.

Para quem tem diabetes tipo 2, MODY ou gestacional, existe uma certa resistência à insulina, ou a insulina produzida está em pouca quantidade. A quantidade de carboidrato para cada refeição pode ser estipulada pela nutricionista e aí que entra a contagem. Quando você consome a quantidade certa de carboidratos para cada refeição, o pico da glicemia será muito menor e as variações também, melhorando os controles glicêmicos e resultados de exames como a hemoglobina glicada. Lembrando que alimentos integrais e com maior quantidade de fibras ajudam muito para um controle mais fino.

A quantidade de carboidratos irá levar em consideração o tipo físico e sexo, idade, nível de exercício físico e horário da medicação. Não estou dizendo aqui que a dieta será Low Carb (30g de carboidrato por dia) que está na moda, afinal o carboidrato é o nutriente essencial para nos fornecer energia e nos manter ativos, não indico que façam esse tipo de dieta.

Equilíbrio é Tudo

Para quem tem diabetes tipo 1 ou LADA, que utilizam insulinas ultrarrápidas, a contagem dá mais liberdade por permitir que qualquer alimento entre na contagem. Entretanto, é preciso ressaltar, que o consumo indiscriminado de alimentos fará engordar e poderá trazer resistência à insulina. Isso é bastante comum para pessoas que estão começando com a contagem e comem tudo sem pensar na qualidade do alimento.

O quanto uma unidade é capaz de “queimar” carboidrato varia muito de pessoa para pessoa, pois cada organismo funciona e responde de formas diferentes. O médico ou nutricionista especializado em diabetes poderá calcular isso para você.

Colocando a Mão na Massa

Como exemplo para facilitar o entendimento vou usar para o cálculo do bolus alimentação 20 gramas. Imagine que você irá comer um pão francês inteiro (50g a porção) que possui 30g de carboidrato e vai tomar uma coca zero que não tem carboidrato.

Simples, divide 30g por 20g resultado 1,5. Isso seria a dose de insulina para queimar o pão.

Agora você foi no Mc Donald’s e comeu um McChicken (40g de carboidrato) + Batatas Fritas grande (49g de carboidrato) + Milkshake Ovolmatine (157g de carboidrato). Lembra que eu falei sobre comer alimentos não saudáveis? Olha só a quantidade total de carboidratos dessa refeição: 246g!!!! Fazendo o cálculo utilizando o 20g para o bolus, 12 unidades de insulina darão conta do recado… É aí que as coisas complicam!

Cuidado com as armadilhas

Até agora eu te contei como contar os carboidratos, mas você sabia que mesmo a proteína e a gordura também aumentam a nossa glicemia?? Isso demora cerca de 3 a 4 horas, mas acredite, ela vai aparecer e vai te dar um grande susto! Então melhor a gente evitar essa hiperglicemia, não é?

Três horas depois desse lanche gorduroso, vamos considerar 50% como gordura (essa quantidade também pode variar, o nutricionista precisa ajustar isso com você), o lanche tem queijo e tem o frango que nesse caso foi frito, se fosse uma carne também teria gordura, as batatas foram fritas, o milkshake tem gordura do leite, do sorvete e do chocolate. Ufa! Então eu coloco meu celular pra me avisar 3 horas depois e considero metade dos carboidratos. 123g. Divido por 20 (nesse caso, sua conta pode ser diferente) e aplico 6 unidades. (Você pode calcular também com base na dose de insulina 12:2=6).

Bom Senso e Bons Resultados

Agora sim! A glicemia estará sob controle. Sem proibições, mas com orientação. Admito que quando eu vejo a quantidade de carboidrato e penso em corrigir 3 horas depois, me dá um pânico e eu prefiro fazer escolhas mais saudáveis. Mas uma vez na vida não tem problema. O mesmo vale para pastel, pizza, salgadinhos de festa, sorvete de massa.

O diabetes não é impeditivo. A contagem de carboidratos facilita o nosso dia a dia e nos ajuda no controle glicêmico e nos faz também optar por alimentos com menos carboidrato já que acabamos decorando algumas quantidades. Existem várias opções que nos permitem isso. Eu indico sempre um pão de forma integral onde 2 fatias tem apenas 14g de carboidrato, metade do pão francês, gostoso e dá muito mais saciedade. Biscoito de arroz integral no qual cada biscoitinho tem 1,5g de carboidrato, também é mais saudável, além de ser sem glúten e sem lactose. São escolhas que fazemos diariamente.

Eu escolhi aproveitar a vida e ser saudável. E você?

Pensem nisso.

Até a próxima,

Deise Santiago – CRN – 340982

Nutricionista e Educadora em Diabetes

https://www.facebook.com/nutrideisesantiago/

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