Por Daniel Ramalho
“Agosto mês do desgosto”, já diria a boca do povo, mas, definitivamente, esse era um agosto diferente no Rio de Janeiro: a criançada não estava voltando das férias – ao contrário, começando a curti-las – a cidade estava em clima olímpico, um astral diferente invadia o coração de todos e, principalmente, Aaaah… Eu entraria de férias!!! Woohooooo!!! (rs).
MI BUENOS AIRES QUERIDO
Um voo diferente
A programação após as olimpíadas era levar minha filhinha de poucos meses para conhecer a parte argentina da família. Alguns mais próximos já haviam se adiantado e a visitaram em terras cariocas, mas a maioria estava esperando a oportunidade. Como precisava dar uma espairecida, Buenos Aires me pareceu uma ótima ideia.
Conforme meu procedimento em todas as viagens, preparei meus apetrechos do diabetes com todo o cuidado em minha maletinha de primeiros socorros: seringas, frasco de insulina, caneta de insulina rápida, fitas de medição de glicemia, glicosímetro, lancetas, sachês de açúcar, agulhas extras para a caneta, lenços com álcool, além de outros remédios e, por precaução, um atestado médico para apresentar a quem pudesse implicar com minhas agulhas.
Como de praxe, não houve problemas para embarcar ou desembarcar do avião com tanta agulha e lanceta. Na verdade, como, além da bagagem normal, estava com um carrinho de bebê, bebê conforto, bolsas do bebê e, obviamente, o bebê, passageiros, funcionários da empresa aérea e responsáveis pela fiscalização de embarque ao nos verem – a mim, minha esposa e filha – abriam caminho e tentavam facilitar ao máximo nossas vidas. Hahaha! Tínhamos prioridade em tudo e mesmo assim confesso que a tarefa era complicada. Lidar com o diabetes era a menor de minhas preocupações naquele momento (rsrsrs).
Precaução faz bem ao bolso
Ao chegar a Buenos Aires, agradeci a Deus por ter levado todos os meus “apetrechos” e medicamentos: alguns itens de nossos cuidados diários podem sair bem mais caros que no Brasil. O curioso é que fitas de medição e glicosímetros custam mais ou menos o mesmo que em nosso país, mas não posso dizer o mesmo das insulinas: algumas chegam a sair o triplo do preço em algumas farmácias, como é o caso de uma das que faço uso, a asparte NovoRapid Flexpen.
A explicação mais convincente que escutei para esse fato é que por lá, os planos de saúde fornecem os remédios a seus clientes e, por isso, alguns remédios podem sair bem caros para quem não possui nenhum plano, em outras palavras: Quem tem, tem. Quem não tem que se vire! Mas cá pra nós, se não aumentasse tanto para quem não tem plano de saúde, até que não seria má ideia que as empresas brasileiras do ramo fornecessem remédios, já que o serviço anda tão fuleiro… #ficaadica .
Um respeito Monumental
Sempre tive uma relação bastante estreita com a Argentina, desde sua cultura até seu povo. Fiz grandes amizades por lá, trabalhei com vários “hermanos” no Instituto Cervantes do Rio de Janeiro – onde lecionei espanhol por vários anos – e foi a Argentina que me mandou minha amada esposa (rsrsrs). Quer dizer, tenho um pezinho do lado de lá da fronteira e até meu sotaque e vocabulário ao falar espanhol tem uma influência bem forte dos portenhos. Não é por nada que adoro ir para lá. Hahaha!
Desta vez consegui fazer algo que sempre tentava e nunca podia por estar lá fora da época: ir a uma partida de futebol. Sim! Como frequentador assíduo de eventos esportivos, não poderia ser diferente. E dei a sorte de ser justamente numa final com casa cheia no Estádio Monumental de Núñez, casa do Clube Atlético River Plate, onde cheguei a fazer a gravação de um vídeo (clique aqui para ver), postado em nossa página no Facebook na noite do dia 25 de agosto.
Como já tive um pequeno problema no Maracanã para entrar com minha insulina, era óbvio que me batesse alguma ansiedade ao ir pela primeira vez a um estádio de futebol em Buenos Aires para assistir a uma partida. Passeios no Monumental ou em La Bombonera – campo do Boca Juniors – já os havia feito algumas vezes, mas jamais havia ido a uma partida. Dessa vez tive sorte e fui justamente na época da final da Recopa Sulamericana entre River Plate e Independiente Santa Fe, da Colômbia.
Quem me conhece sabe o quanto gosto de ir a estádios de futebol e eventos esportivos em geral e aquele havia sido aguardado por bastante tempo. Tudo tinha que sair bem, sem nenhum problema ou constrangimento no que diz respeito ao meu glicosímetro e caneta de insulina.
Várias vezes lembrei de um relato de um amigo argentino que tem diabetes, no qual contava que passou por muitos problemas para entrar com sua insulina em um show de rock em outra província do país. Meu receio era que me acontecesse o mesmo, apesar de considerar que na Argentina há bem mais consciência das pessoas sobre como lidar com o diabetes.
Chegando ao Monumental a ansiedade aumentava e como a entrada por lá é feita em etapas distintas, com policiais fazendo barreiras nas quais tínhamos que esperar que a seguinte se esvaziasse para prosseguirmos, a tortura era grande, hahaha!
Ao chegar o momento, esvaziei os bolsos e confesso que fiquei com vontade de disfarçar a insulina e o glicosímetro, mas a curiosidade de saber se existe consciência da organização de grandes eventos por lá no tocante às pessoas que tem diabetes foi maior e os deixei bem na cara do segurança, depois do primeiro policial, do segundo também, até passar por mais um segurança, quando, neste momento cheguei a medir minha glicemia ali, bem diante de quem poderia implicar com alguma coisa, mas que nem me deu bola (rsrsrs).
Ninguém implicou com nada, o River Plate foi campeão da Recopa, a festa foi muito bonita, repleta de fogos, mas uma dúvida ainda me persegue: será que me deixaram entrar sem nem perguntar sobre minha insulina e medidor de glicose por terem consciência de que quem tem diabetes precisa estar sempre com suas “tralhas” ou porque não faziam a menor ideia de que aquela caneta tinha uma agulha na ponta e que o glicosímetro também usa a agulha da lanceta? Oh, dúvida cruel… Só sei de uma coisa: foi muito bom conhecer mais um estádio de futebol em plena atividade e poder disfrutar sem que
ninguém implicasse com meus apetrechos, como também já ocorreu na Arena do Grêmio e no Beira Rio, em Porto Alegre-RS em 2014, No Engenhão aqui no Rio por várias vezes e como normalmente ocorre no Maracanã, mas que apenas uma vez tive um probleminha rapidamente resolvido, mas nem por isso menos desagradável.
Fico imaginando como deve ser revoltante não poder entrar em algum evento com a insulina ou qualquer coisa que faça parte do tratamento de qualquer enfermidade crônica, o que tenho conhecimento de que acontece com mais frequência do que se pode imaginar.
Acabou-se o que era doce (e que foi corrigido com insulina)
De tão bom, o que era para ser um passeio de 9 dias se tornou uma viagem de 17 dias de um frio maravilhoso – eu gosto muuuuito – e muitos momentos lindos com os amigos e a família. Mais uma vez agradeci a Deus por ser precavido e ter levado mais insulinas, seringas e fitas do que usaria a princípio e não precisei comprar nada caro.
Infelizmente, as férias sempre acabam e precisamos voltar. Precisava encarar novamente o trabalho e agora, com a cabeça mais relaxada, organizar tudo de uma forma que minha nova realidade, a paternidade, pudesse ser curtida e bem alinhada com a vida laboral.
O voo de volta também foi muito tranquilo, novamente ninguém implicou com minha bagagem pontiaguda e voltando a terras cariocas, mais um evento me esperava: as Paralimpíadas Rio2016.
Não, definitivamente eu não paro quieto. Hahaha! Mas esse é um assunto para a semana que vem.
Espero que tenham gostado deste relato. Acompanhem os próximos.
Grande abraço,
DANIEL RAMALHO
DIABETES ESPORTE & NATUREZA