imagem Diabetes, Autoavaliação e Superação: a morte do super-homem

Por Daniel Ramalho

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Primeira glicemia do dia: a hora da verdade. Imagem: DEN

Bom dia para você que acordou com glicemia de dois dígitos! E para você que não conseguiu, não desanime e tenha um dia melhor ainda!
Só Deus sabe o quanto sofri por estar há algum tempo com a glicemia de jejum insatisfatória. Portanto, números como esse estão representando uma nova vitória em minha vida há menos de uma semana.
Desde o segundo semestre do ano passado, após uma antiga lesão no fêmur voltar a me incomodar, fui obrigado a diminuir, e até parar por algum tempo, as atividades físicas. Quem pratica esportes sabe o quanto isso nos faz falta, principalmente se os usamos para auxiliar no controle do diabetes.
No princípio estava tudo bem, me readaptei a um ritmo menos ativo, sabendo que aquela situação era provisória. Passei a ter que usar com mais frequência a insulina rápida e meu controle glicêmico permaneceu muito bom… Durante o dia.
Era à noite que o bicho pegava. Com a ausência ou pouca atividade física, fui tomado de surpresa por glicemias de jejum totalmente diferentes das que estava acostumado. Em épocas de exercícios frequentes, raramente minha glicemia pela manhã passa de 110 mg/dl, porém neste momento estava convivendo com números entre os mesmos 110 e 180 mg/dl. Houve dias em que acordava e estava com mais de 200, o que para mim, que me cuido bastante, era algo impensável até então e meio assustador se pensamos a quanto pode ter chegado durante a noite.

É frustrante acordar com a glicemia alta e ter a sensação de que todo o esforço do dia anterior de nada valeu, mas é preciso ter humildade e força de vontade para retomar o controle. Imagem: DEN

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É frustrante acordar com a glicemia alta e ter a sensação de que todo o esforço do dia anterior de nada valeu, mas é preciso ter humildade e força de vontade para retomar o controle. Imagem: DEN

Pensei muito sobre as possíveis razões daquele desequilíbrio, pois de dia, sempre alerta, conseguia um ótimo controle glicêmico, mas na hora de dormir, apesar da glicemia geralmente estar boa, acordava com ela bem acima do esperado.
Obviamente meu primeiro culpado encontrado foi o jantar. Coitado… Logo ele que sempre foi super light. Pois sofreu drástica redução, prestando ainda mais atenção aos carboidratos lentos, mas nem isso adiantou. E de outro lado ainda estava o meu médico dizendo que eu deveria diminuir ainda mais minha alimentação, resistindo à ideia de aumentar minha dosagem de insulina NPH que já era a mesma há 7 anos.
Ao longo desse tempo fui reduzindo minha alimentação, pois o doutor não curte muito a idéia de aumentar dosagens de insulina. Como sempre caprichei nos esportes, nunca tive grandes dificuldades para me adaptar e readaptar às mudanças, mas desta vez não estava conseguindo o resultado almejado. Fiz de tudo, até colocar o despertador para me acordar no meio da noite, medir a glicemia e aplicar a NovoRapid. Nada deu certo…
Esse tipo de situação nos tira do sério, não é mesmo? É… Eu posso me cansar e me irritar, mas desistir? Ah… Isso não me pertence mais desde o diagnóstico de diabetes, pois as dificuldades passaram a ser grandes professoras desde então. Deixar pra lá pode trazer sérias consequências futuramente, além de atrapalhar o próprio presente com o sentimento de frustração constante causando muita irritação e todas as “nuances” de uma glicemia descompensada (mesmo que apenas em uma parte do dia). Definitivamente, não é isso que quero para mim, nem para nenhuma pessoa que tenha diabetes.
Minha primeira glicada acima de 6,5%  – se não me engano a maior havia sido 6,4% – que foi de 7,1%, a maior desde o diagnóstico, chegou para acender o alerta. A segunda, que veio essa semana, de 8,3%, me confirmou que algo drástico precisava ser feito.
Conversando com outro médico, aumentei minha dose de NPH e estudo a possibilidade de começar a usar a Lantus.
Melhorou, mas ainda faltava um toque para a glicemia noturna voltar ao seu lugar: assumir minha parcela de culpa no meio disso tudo.
Não adianta apenas procurarmos culpados para encontrar uma solução. Precisamos estar sempre dispostos a assumir nossa responsabilidade. Não para se punir, se lamentar, mas para crescer, se fortalecer e poder agir com mais precisão.
Analisando o que poderia ter feito de errado, afinal não existe um super-homem e todos somos passíveis de falhas, notei que com a diminuição nos esportes e a possibilidade menor de ser pego de surpresa por hipos, relaxei um pouco na organização de minha rotina. Passei a me alimentar em horários menos rígidos e o mesmo aconteceu com as aplicações de insulina.
O que pode parecer um pequeno detalhe, faz toda a diferença no que diz respeito ao tratamento do diabetes. Deixei momentaneamente que meu trabalho, estudo e vida pessoal interferissem nos horários da insulina e da comida. Justo uma das partes do tratamento das quais sempre me orgulhei de seguir com tanto empenho…
Já vinha notando que precisava tomar minha dose noturna da NPH no próprio trabalho, pois muitas vezes fico até mais tarde resolvendo algumas questões, e havia comprado uma geladeira portátil para mantê-la em minha sala justamente para isso – sim, eu sou desses que mesmo sabendo que não há necessidade de se manter a NPH na geladeira depois de aberta, o faço com convicção (sou carioca e aqui faz um calor dos infernos, pô! Rs). Dito e feito!!!
Restabeleci horários para aplicações e alimentação de 3 em 3 horas, voltei a seguir com afinco esse esquema e essa foi a “cerejinha do bolo” para a retomada do controle de minha glicemia noturna: desde a terça-feira que venho obtendo ótimos resultados a cada teste e desde a quarta que estou acordando com a glicemia de jejum abaixo de 100mg/dl. Hoje chegou até a ser mais baixa do que o esperado, pois ontem caminhei bastante.

Quem fica inerte ou prefere reclamar a agir priva-se de ver seu esforço compensado. Acordando com 96 mg/dl e já cuidando das paredes da casa! Imagem: DEN

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Quem fica inerte ou prefere reclamar a agir, priva-se de ver seu esforço compensado. Acordando com 96 mg/dl e já cuidando das paredes da casa. Imagem: DEN.

Conforme comentei em um post de terça (26/04/2016) na página do Facebook, repito: imaginem se eu tivesse desistido… Certamente estaria me sentindo frustrado, procurando culpados para descarregar minha angústia e teria muitas outras atitudes comuns aos nossos momentos de fraqueza, mas que devem se limitar a breves instantes.
Não é raro vermos muitas pessoas se queixando em lugar de agir. Se lamentando ao invés de tentar encontrar soluções. Culpando o mundo por tudo de mal que lhe acontece, esquecendo-se de avaliar o quanto elas mesmas investiram naquele descontrole.
Precisamos mostrar a todos os que agem assim, e não são poucos, que ter diabetes não é fácil, mas que todos nós temos a força necessária para dar a volta por cima.
A vida de ninguém é um mar de rosas, então por que a nossa seria se é justamente isso que nos faz evoluir a cada dia? Cada um de nós, com diabetes ou não, enfrenta diariamente vários problemas. Superá-los é crescer, amadurecer e tornar-se uma pessoa melhor.
Permitam-se reconhecer seus erros. Matemos o super-homem que há dentro de cada um de nós para que possamos assumir nossos equívocos sem sentimento de culpa e encontrar as melhores soluções.
Assim como eu, que só encontrei a melhor saída para meu problema quando consegui me autoavaliar, muitas outras pessoas estão conseguindo bons resultados glicêmicos respeitando suas condições, aproveitando suas vidas e valorizando cada conquista, por menor que seja.
Tenho certeza que com essas mudanças em 3 meses terei um exame de hemoglobina glicada muito melhor, pois eu escolhi viver em lugar de me lamentar.
Pensem nisso. Vamos viver! Vamos mostrar a todos que o diabetes não é uma sentença de morte, mas mais uma oportunidade de crescimento e o início de uma nova vida.
Não é preciso ter superpoderes para ter uma vida feliz.
Um grande abraço a todos nessa Sexta Azul,
DANIEL RAMALHO

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