Diabetes: Você É Prioridade
Por Daniel Ramalho
Desafio
Ainda me lembro dos difíceis dias pós-diagnóstico do diabetes e a dificuldade em encontrar qual seria minha prioridade naquele momento. A primeira consulta com um endocrinologista serviu para confirmar o que, para mim, já estava evidente e começar o tratamento, pois, ao ler o resultado do exame e ter contato com alguns textos sobre o diabetes, não havia muito como duvidar que minha doçura andava maior do que devia, embora minha primeira reação tenha sido a negação.
Fui pra casa, passei pelo desafio de começar a me aplicar a insulina, ter a minha primeira hipo ainda no primeiro dia de tratamento, o medo de nunca mais poder praticar esportes aquáticos, a superação de tal temor… Enfim, foram muitas as coisas que tive que aprender em um curto espaço de tempo e, por capricho da vida, lidando com questões pessoais ainda mais difíceis do que o próprio diabetes.
Reencontro
Veio a segunda consulta, com novos exames, novas perguntas e novas anotações sobre minhas glicemias. Tive a sorte de ter um médico atencioso, mas o que mais chamou a minha atenção naquele dia, foi a observação feita por ele ao ver minha dedicação traduzida no resultado dos exames: “como é bom cuidar de uma pessoa inteligente”, disse com um sorriso largo no rosto.
Como nunca me achei extraordinário em termos de QI ou resultados acadêmicos, estranhei tal comentário, mas o creditei a algo que agora entendo ir bem além da capacidade de raciocínio: meu espírito de reação, que naquele momento representava uma questão de sobrevivência, tal o peso dos problemas pessoais que tinha, além da enfermidade que se apresentava. Hoje em dia é modinha, mas já naquele tempo aprendi que o termo correto, para o que me caracterizava em tal atitude de constante luta e sede de superação, é “resiliência”.
Posturas
Como a postura que adotei me parecia natural, não notava o que o doutor vivia diariamente em seu consultório com pacientes que, não raro, não se cuidavam. Perguntei a razão de tal observação e entramos por um longo papo sobre adesão ao tratamento. Não era a primeira vez que o tema me chamava atenção, visto que já havia perdido um parente próximo por não notar que o diabetes exigia controle constante. Mas foi a primeira vez que notei o quanto aquilo que, naquele momento, me parecia tão óbvio de ser feito, era difícil para algumas pessoas.
Na verdade, para mim também era, mas só notaria essa dificuldade algum tempo depois. Naquele momento em que me considerava reação pura diante das adversidades que a vida me impunha, considerava que cuidar de minha saúde física era uma resposta natural de minha mente para superar todos os desafios do momento.
Porém, embora tenha a minha inteligência, sei que não sou um “crânio”, como diria minha avó. Entendo também que saber cuidar-se não é um privilégio dos mais dotados intelectualmente. É uma questão de amor-próprio, autoestima e sobrevivência. Percebi que, naquele momento, meu médico soube lidar de forma genial com minha autoestima. Nunca esqueci tal colocação, que me ajuda muito quando a tentação das lamentações, o popular mimimi, tenta se aproximar.
Prioridade
Nesses 11 anos convivendo com a condição, aprendi a ser a minha prioridade. Aprendi muito com a vida, o diabetes e superei muitos momentos difíceis. Também errei mais do que queria, chorei, me vitimizei, culpei os céus por tal doença. Eu me permito tais momentos e aceito a minha imperfeição como algo natural, pois assim é. O sucesso é algo que se constrói sobre os erros passados.
Em todos os equívocos, lamentos e momentos angustiantes, quando me lembro da tal frase “como é bom cuidar de uma pessoa inteligente”, me levanto. Imediatamente vêm a mim as imagens e os sentimentos daqueles dias tão difíceis. Também, a lembrança de como pude superar cada questão por, simplesmente, me amar.
Portanto, ame-se. Priorize-se. Cuide-se acima de tudo e não permita que nada ou ninguém se coloque entre você e seu bem-estar. Mesmo que haja alguém sob sua responsabilidade, não a use como desculpa pela falta de tempo ou dedicação a si próprio. Lembre-se sempre dos conselhos das comissárias de bordo antes de cada viagem: coloque sua máscara de oxigênio para só então ajudar aos outros. Simples assim.
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Grande abraço,
Daniel Ramalho
Blog Diabetes Esporte & Natureza
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