Coluna Psicologia e Diabetes
Por Raquel Pilotto
Quando eu digo às pessoas que sou uma psicóloga especializada em atender pacientes com diabetes (e que também tem diabetes tipo 1), elas geralmente ficam intrigadas com essa especialidade (ou nicho). As pessoas perguntam: “Existe mesmo uma necessidade para isso?” ou “Realmente é tão difícil assim ter diabetes?”.
Convivência com o Diabetes
Quem tem diabetes sabe que viver com a doença pode ser muito difícil e, muitas vezes, os maiores desafios são mentais. Pense sobre isso: temos 365 dias em um ano e se você consultar seu médico a cada 3 meses, isso significa que há 361 dias por ano em que você está “sozinho” para controlar seu diabetes. Você tem que tomar decisões importantes sobre sua saúde – às vezes de vida ou morte – várias vezes ao dia, todos os dias. Para algumas pessoas, essa responsabilidade pode ser tão angustiante e frustrante que, por vezes, param de verificar sua glicemia (nível de açúcar no sangue) e de tomar insulina, como uma forma de negação. E isso acarreta graves prejuízos à saúde, gerando mais danos psicológicos, ou seja, uma bola neve. O psicológico afeta no físico que afeta no psicológico e assim por diante.
Além disso, as pessoas com diabetes devem lidar com questões como o medo da hipoglicemia (baixo nível de açúcar no sangue), com o risco de desenvolver complicações ou até mesmo, combater um distúrbio alimentar relacionado ao diabetes, entre outras coisas. Quando converso com outros profissionais de saúde mental sobre tudo isso, muitos deles me dizem que não tinham ideia do quanto a vida com diabetes pode ser difícil.
Ajuda Profissional
Se você tem diabetes e está com dificuldades, como saber se deve buscar ajuda especializada? Quando alguém me pergunta isso, eu os peço que se façam as seguintes perguntas:
1) Suas dificuldades estão afetando sua capacidade de cuidar de si mesmo e controlar sua glicemia?
2) A sua condição tem um impacto negativo nos seus relacionamentos?
3) O estresse de viver com diabetes torna mais difícil fazer coisas que são importantes para você?
Se alguém responder sim a alguma dessas perguntas, talvez seja útil procurar ajuda.
Nem todo psicólogo trabalha da mesma forma. No meu caso, atendo tendo como base a teoria psicanalítica. Existem diferentes tipos de tratamento psicológico e a psicanálise é um deles. É o que mais me identifico e acredito que pode ajudar da melhor forma àqueles que estão passando por dificuldades. A psicanálise trata cada um individualmente, respeitando suas particularidades, dando voz ao sujeito que sofre. Desta forma deixa-o à vontade para falar e com a certeza de que será ouvido e acolhido, independente de qual for a sua dor.
Diferencial
Se o que você está enfrentando é relacionado à diabetes, então é importante que seu psicólogo realmente entenda a condição. Por exemplo, se uma pessoa me procura por não estar tomando insulina por medo de engordar, transtorno chamado Diabulimia. Um psicólogo que não sabe muito sobre diabetes pode ter dificuldade em entender esse problema e não saber como ajudar. Se você se consultar com alguém que entende de diabetes, ele vai identificar melhor o ponto sobre o qual você está falando. Consequentemente, saberá qual a melhor forma de ajudar.
Muitas pessoas se perguntam o que acontece em um tratamento psicoterapêutico ou psicanalítico. A psicoterapia não é uma mágica, é um trabalho árduo, mas pode ser um lugar seguro e de apoio. Nele você pode trabalhar qualquer dificuldade que esteja enfrentando. Um psicólogo irá ajudá-lo a desenvolver as habilidades para lidar melhor com os desafios da vida com diabetes, a resolver conflitos e também a enxergar como seus pensamentos estão afetando suas emoções e seu comportamento. E com isso, você poderá tomar as rédeas de seu tratamento da melhor forma possível, pois como um paciente disse uma vez “se não consigo controlar minhas emoções, não consigo controlar minha glicose”.
Um abraço e até a próxima!
Raquel Pilotto
Psicóloga – CRP: 05/56133
raquelborgatte@hotmail.com
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