Por Daniel Ramalho
A vida vive nos pregando peças quando menos imaginamos e, se a luta de pessoas queridas nos inspira e faz crescer ainda mais, é o momento de acreditarmos em nós mesmos e nos deixarmos surpreender com nossa própria força.
Há mais de dois anos que criei o blog DIABETES ESPORTE & NATUREZA e desde então venho publicando minhas lutas, pensamentos, inspirações e tentando passar um pouco de minha energia a quem precisa. Aprendi e ensinei bastante nesse tempo e espero continuar fazendo tudo cada dia mais e melhor.
São 28 meses escrevendo, tirando fotos, produzindo videos, participando de ações em prol de pessoas com diabetes e confesso que ainda me surpreendo com as voltas que a vida dá e a forma que ela encontra para nos ensinar, principalmente, quando tudo parece dar errado.
Há vários anos trabalhei para uma pessoa pública, cujo nome não vem ao caso, mas que sempre a admirei. Lembro-me que era um momento difícil de minha vida, mas que o diabetes ainda não fazia parte de minha rotina. Essa pessoa me ajudou muito, não apenas no campo do trabalho, mas também com sua forma de viver, enxergar a vida e a força descomunal que possuía em seu coração.
Mal sabia eu o quanto estava aprendendo e quantas vezes me recordaria daquele pouco tempo que trabalhamos juntos. Com ela vi na prática, ainda que fosse uma exigência de seu trabalho, que não importava o quanto nos batessem, pois enquanto encontrássemos forças para sorrir, nenhuma batalha estaria perdida. Nem preciso dizer que era detentora de uma risada potente e contagiante, mas que ao mesmo tempo vê-la enfezada por algum deslize de alguém no trabalho era algo desconcertante.
Foram esses o pensamentos que carreguei na mente e em meu peito no momento do diagnóstico do diabetes: os de que aquilo só me derrotaria se eu deixasse meu sorriso desaparecer e que era preciso agir energicamente diante da adversidade.
Lembrei-me das vezes em que pessoas tentaram feri-la, do quanto me preocupei em tentar preservá-la e de seu semblante tranquilo dizendo-me: “Calma, Daniel. Veja como se lida com essa situação” e ela a encarava com classe, tranquilidade e altivez situações em que eu esbravejaria ou me deixaria tomar pela ansiedade. E era eu que me julgava responsável em protegê-la… (risos)
Há alguns meses soube que ela estava doente: alguma doença rara que a havia atacado de repente, mas acreditava que ela logo sairia dessa. Igualmente, comecei a tentar visitá-la. Na semana passada fiquei sabendo e custei a crer que era uma enfermidade tão grave e degenerativa como a que me disseram que era. Me desculpe o leitor, tampouco direi qual, visto que pouco importa para o que vem a seguir.
Imediatamente me dediquei mais ao compromisso de visitá-la, para tentar levar um pouco da força de alguém que convive com uma doença crônica há 8 anos e que lida com a situação com bom humor, responsabilidade e leveza. Queria ajudá-la a enfrentar a enfermidade de alguma forma, visto que esperava encontrar uma cena forte e triste ao realizar minha visita.
Ontem pude ir vê-la! É inegável que um filme com imagens muito ruins passavam por minha mente ao tomar o rumo de sua residência. Era certo que encontraria uma pessoa completamente entregue ao seu destino, sofrendo muito e com um semblante que inspiraria algumas de minhas mais tristes recordações futuramente, tanto que nem pude ir sozinho, pedindo à minha acompanhante que, inclusive, marcasse a visita, pois ela tinha muito mais intimidade com a pessoa do que eu.
Chegamos!
Lá estava ela: imóvel, de costas, sentada em uma cadeira de rodas. Senti um aperto no coração. O que me esperava quando a visse de frente? Quanto daquela pessoa cheia de vida, sorridente, de voz forte que preenchia qualquer ambiente ainda estaria lá? Os 10 segundos que passaram entre nossa entrada e nosso cumprimento foram alguns dos mais longos de minha vida.
Ainda não me sentia preparado para aquele momento e deixei que a pessoa que me acompanhava fosse na frente e tomasse a iniciativa. Fomos caminhando lentamente, a pessoa na minha frente a cumprimentou e… Era a minha vez…
Respirei fundo, forcei um sorriso simpático para disfarçar o choque que já esperava, até que, de um sorriso forçado, passei a outro de perplexidade, felicidade e alívio: minha querida ex-chefe e amiga, como sempre, ostentava um sorriso enorme, de orelha a orelha!!! Estava mais magra, a voz forte de outros tempos havia dado lugar a alguns sinais feitos com a mão, a uma caneta e um caderninho com os quais escrevia e se expressava quando os sinais não traduziam seus pensamentos. Respirava também com bastante dificuldade, mas ela estava toda ali: lindamente presente, altiva, sorridente, comunicativa, e guerreira!
Mais uma vez a mesma pessoa me dava uma grande lição de dignidade, força, generosidade e amor comoventes e me fazia pensar em quantas vezes, por muito menos, deixei que meu sorriso se escondesse atrás de minha revolta por questões difíceis, mas muito mais simples.
Agradeço a ela e a Deus a oportunidade que tive de me lembrar do poder de decisão que temos quando as únicas opções são: se entregar ou lutar.
Muitos já sabem que vivo um momento de mudanças e reafirmações em minha vida para fechar algumas portas e abrir algumas janelas… Como qualquer ser humano, sinto-me um tanto fragilizado e receoso em alguns de seus âmbitos. A experiência vivida ontem, ao contrário do que esperava, me fez ainda mais forte para encarar meus desafios.
Aquele sorriso não sai de minha mente! Aquela força não deixa de me inspirar! Que a luz dessa guerreira me acompanhe por toda a vida!
Lembrem-se das palavras do mestre William Shakespeare: “É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada”.
Obrigado à vida por ter a oportunidade de conhecer pessoas tão especiais!
Obrigado a você por ler até aqui esse relato!
Deixe-se inspirar! Acredite e busque sua força interior, pois todos nós a temos!
Surpreenda-se com seu próprio valor e coragem!
Pare de reclamar! Lute! Viva! Sorria!
Hoje acordei me sentindo uma pessoa muito melhor do que ontem!
Grande abraço,
DANIEL RAMALHO
DIABETES ESPORTE & NATUREZA
Palavras de inspiração. Descobri que tenho diabetes há 3 anos. As vezes esqueço dela. Tento seguir dia após dia.
Ana Célia, nossas rotinas não são nada fáceis e precisamos tentar nos inspirar a cada dia. fico feliz em ter contribuído com a sua inspiração. Grande abraço,